Às vezes, em momentos de total solidão, tento falar com Deus. Pergunto primeiro se ele existe mesmo; depois, se existe, se pode me ouvir; e se pode me ouvir, se poderia prestar atenção no que eu tenho pra dizer.
Então eu paro e penso: o que eu tenho a dizer? Não sei! Não sei!
Minha cabeça gira. Meu corpo treme. A voz embarga. O pensamento silencia. Sinto uma sudorese abundante me encharcar.
Será que to delirando? Será que não estou buscando o irreal? Será possível que Deus não exista?
Um dia, na última vez em que estive em um desses momentos, uma voz da qual não sei dizer a origem me responde num sussurro: "- sim, Deus existe... porém, mais pertinente seria indagar se ele está vivo."
Mas então eu retruco: - Se ele existe, tem que estar vivo! Como poderia ser diferente?
Então a voz me responde mais uma vez, num sussurro ainda menor, quase imperceptível: "- a questão é saber se ele está vivo em você..."
Um silêncio tumular recaiu sobre mim não sei dizer por quanto tempo...
Falo, grito e só acho silêncio; busco luz e só acho trevas; busco conforto e só acho angústia.
Dialogo com um cadáver, pois dentro de mim Deus está morto.
Eu não tenho o poder de ressuscitar os mortos.
(...)