segunda-feira, 24 de maio de 2010

Vivos e mortos

Essa crônica não é exatamente minha. É baseada numa já existente, que eu desconheço o autor e também quando ela foi escrita. Esta é, pois, uma releitura de acordo com as minhas impressões pessoais dos fatos descritos na referida crônica. Pois bem...

Imagine ter que passar de noite em frente de um cemitério, estando o lugar totalmente deserto... será que alguém sentiria medo?
Eu sentiria... medo de ser assaltado!
A nossa situação anda tão periclitante, que não há mais espaço pra medo de alma penada.
Mas, em cidades pequenas de interior, sobretudo as mais afastadas da capital, de vida mais provinciana, aonde a violência urbana ainda não chegou, pelo menos de forma alarmante, é onde ainda se conservam com mais intensidade o medo de “coisas do outro mundo”. Ou seja, o indivíduo não tem do que ter medo, aí “inventa” coisas pra ter medo. Daí aparece um séquito de coisas: fantasmas, lobisomens, mula-sem-cabeça, caiporas, mulher de branco... e etc.

Dona Maroca, que morava numa pequena cidade do interior da Bahia, está caminhando de volta pra casa já altas horas da noite e se vê na iminência de passar em frente ao cemitério municipal da cidade e a rua está completamente deserta. O muro do cemitério é bem comprido, com um grande portão de ferro no meio. Dona Maroca pára, muito temerosa de passar por ali sozinha e se deparar com uma alma penada.
Eu fico aqui pensando que como seria bom se nós tivéssemos somente medo de alma penada. Nada de assaltantes, estupradores, seqüestradores e afins. Seria tão bom! A vida seria muito mais tranqüila. Dona Maroca não tem consciência do quanto ela é feliz.
Mas voltando à história, dona Maroca congela de medo e não consegue seguir adiante. Nesse momento passa por ela um senhor muito distinto, bem vestido e aparentemente muito educado. Então ela se dirige a ele:
- Por favor, meu senhor... eu tenho um medo danado de passar sozinha em frente ao cemitério de noite. Eu poderia acompanhar o senhor?
- Pois não. – responde ele sorrindo – podemos passar juntos.

Passaram juntos no caminho, e, ao final, dona Maroca diz ao educado estranho:
- Muito obrigado pela companhia. Eu tenho um medo danado de alma penada.
- Pois é... – responde ele. – Quando eu era vivo, eu também tinha.

E evaporou-se no ar...

O que aconteceu com dona Maroca depois de acordar do longo desmaio, eu não sei. Mas com certeza ela não passa mais em frente a nenhum cemitério.

Baseado num conto retirado do livro “Quem tem medo dos Espíritos?”,
de Richard Simonetti.
*

Um comentário:

Bruno Gomes disse...

hahaha!

Coitada da dona Maroca!
Eu acho que eu desmaiaria depois de uma dessa também! lol

Abraços!